A língua catalã

O que nos faz catalães

O catalão é um língua românica originada do latim, falada atualmente por 10 milhões de pessoas. Compreendendo a seguinte área linguística:

1º ) Catalunha Norte: (Comarcas do Rosselló, Cerdanya, Vallespir e Capcir, que foram anexadas pela França em 1659 e que hoje fazem parte do Departamento francês dos Pirineus Orientais).

2º ) Catalunha (Principado): províncias de Barcelona, Tarragona, Lleida e Girona.

3º ) Valência: província de Castelló, Valência e Alicante.

4º ) Ilhas Baleares: arquipélago foramdos pelas ilhas de Mallorca, Menorca, Ibiza e Formentera.

5º ) Alguer: cidade da ilha de Sardenha, pertencente à Itália.

6º ) Andorra: Principado independente integrante da ONU – Organização das Nações Unidas, onde o catalão é a língua oficial.

Os primeiros textos em catalão são do século XII. Durante o século XIII o catalão substituiu o latim nos documentos e consolidam-se as crônicas da época (do rei Jaume I, Bernat Desclot, Ramon Muntaner, do rei Pere III… ) e na obra do filósofo Ramon Llull.

A influência do provençal nos textos poéticos estende-se até finais do século XV, momento em que a obra de Ausias Marc é inteiramente redigida em catalão.

A partir do século XVI, o catalão sofre a influência da língua castelhana, através da corte do Estado Espanhol em expansão. Em meados do século XVII (1659), uma parte da Catalunha cai sobre o domínio do francês e no início do século XVIII (1714), a Catalunha é conquistado pelo exército de Felipe V e perde a independência. Como consequência, a língua catalã foi proibida no Estado Espanhol. No entanto, continua ser o idioma de uso corrente da população, apesar da perseguição sistemática exercida. Com o desenvolvimento econômico e cultural, da Catalunha no final do século XIX e início do século XX, o catalão volta a ser de uso público e cultivado literalmente. A figura mais importante dessa época é , sem dúvida, Jacint Verdaguer, que, e sobretudo com sua obra L’Atlantida (1877), dá novas bases à língua catalã moderna. O catalão conhece então uma expressão literária crescente e retoma o uso público durante as épocas de poder político catalão nos períodos (1914-1925) Mancomunitat de Catalunya; (1931-1939) Generalitat de Catalunya; e a partir de 1980 novamente, Generalitat de Catalunya.

A língua catalã é normalizada no início do século XX (1913, publicação das “normes ortogràfiques” do Institut d’ Estudis Catalans, organizadas por Pompeu Fabra ), mas é sobretudo durante a Mancomunitat de Catalunya (1914-1925) que a língua literária moderna consolida-se pelo seu uso nos meios de comunicação em massas e nas escolas, por uma produção cultural muito rica.

A origem da língua catalã

Antes da chegada dos romanos, os povos que habitavam as terras que hoje formam a Catalunha falavam suas próprias línguas, mas pouco a pouco foram substituindo-a pelo latim. Os habitantes daquela região. Os habitantes daquela região sentiram-se atraídos pela nova organização imposta pelo exército romano e começaram a imitar todas as peculiaridades daquela nova cultura, entre as quais cabe destacar a língua latina que aprenderam através do contato diário e direto com os comerciantes, soldados e funcionários que falavam um latim muito rústico.

Outro fato que deve grande importância no desenvolvimento da língua catalã foi a Queda do Império Romano, ocorrida no decorrer do século V. Essa derrocada provocou o rompimento dos vínculos que uniam as províncias com a capital romana e em consequência uma separação cada vez mais acentuada do latim formal e a desintegração das diferentes formas do latim falado, no estado original, durante a dominação romana. Neste período, as classes cultas ainda escreviam em latim, mas a língua de uso oral será outra.

A transformação do latim para o catalão teve uma evolução lenta e progressiva, ao ponto que não se sabe com certeza em que momento a língua falada é o catalão e não mais o latim. Segundo os linguistas, parece que as mudanças mais profundas na pronúncia, na forma e no significado das palavras ocorreram entre os séculos VII e VIII.

Quando no ano 801, Barcelona ocupada pelos francos, os barceloneses já falavam uma língua românica: o catalão. Entretanto, não possuem muitas provas explícitas desse processo de mudança, pois os documentos continuavam-se escrevendo num latim artificial que, provavelmente não tinha nenhum ponto de referência com a língua falada pelo povo. Essa situação continuaria durante muito tempo, pois as únicas classes sociais alfabetizadas eram alguns Senhores, os Clérigos e parte da Cúria. Essa situação ocasionou que o latim fosse utilizado como língua formal (escrita) e o catalão a língua falada.

No século VIII, ocorreu um dos fatos históricos mais destacados relacionados com a formação do catalão: a invasão árabe. Mas essa ocupação árabe ocorrida em pleno período de incubação da língua catalã, não ocasionou uma substituição do catalão, pois a influência da língua árabe manteve-se somente em alguns topônimos e nomes de terras do Ebro, O Pais Valenciano e as Baleares. Esses territórios suportaram mais longamente a dominação muçulmana, apesar de que os árabes permaneceram 400 anos na Catalunha Nova e quase não houve contatos com a Catalunha Velha (essas duas denominações correspondem aos limites marcados pelas duas grandes fases da Reconquista no Principado: antes e depois do século XII e de Ramon Berenguer IV).

Temos provas históricas que permitem constatar que no princípio do século IX, o latim já não é mais entendido pelo povo; pelo menos isso é o que se depreende do Concili de Tours (ano 813) no qual acordou-se substituir na predicação popular do latim eclesiástico pela Rusticam Romanam Linguam, isto é, a língua vulgar românica. Em meados do século IX, começam a aparecer as primeiras unidades políticas catalãs constituídas nos Condados de Urgell-Cerdanya, Pallars-Ribagorça, Barcelona, Girona e Rosselló.

O progressivo predomínio do Condado de Barcelona em relação a todos os demais, ajuda no desenvolvimento de um Catalão unificado, ainda que não uniforme, que será empregado como língua representativa da expressão culta ao lado do latim. Durante os séculos XII e XIII a Catalunha se une com Aragão até a morte de Jaume II. Durante essa época, a Catalunha se anexa à Mallorca e ao País Valenciano e inicia a expansão política e cultural dentro da Península Ibérica. Em decorrência dessa expansão desenha-se claramente o perfil do Catalão como uma língua perfeitamente diferenciada e com feições próprias.

A partir do século XII encontram-se documentos escritos integralmente em Catalão, dos quais o mais importante é Les Homilies d´Organya, constituído por seis sermões que contém fragmentos de evangelhos e epístolas em latim, que o autor traduz e comenta em catalão e o Forum Ludicum (livro de leis Visigótico) do qual se conserva um fragmento em versão catalã.

Da segunda metade do século XII conservam-se diversos textos legais: os Costums de Tortosa (primeiro código de Direito Moderno Catalão), os Usatges de Barcelona, os Furs de València, etc. Contudo, supõe-se que houve outros textos anteriores de tipo eclesiástico e jurídico que se perderam. Também, nesse mesmo período, a Catalunha intensifica os vínculos culturais com a Occitânia, e esse fenômeno tem repercussões na literatura da época, até o ponto de que a poesia catalã escreve-se em Provençal ou Língua d´Oc. Esse fato apresenta uma nova situação sociolinguística: o latim continua tendo influência como língua formal (escrita), mas o Provençal (em poesia) e o Catalão se usarão cada vez mais como língua de cultura. O Catalão configura-se como a língua falada por toda a coletividade. Porém, somente em fins do século XIV as mudanças políticas e culturais levadas a termo pela burguesia (classe social que surge com o desaparecimento da estrutura social medieval, cujos membros caracterizavam-se por ter capital industrial e financeiro) possibilitaram que o catalão se transformasse numa língua apta para todos os usos públicos e sociais exigidos pelas necessidades da época, tornando-se na língua viva de uma comunidade nacional.

Fonte: SOM UMA NACIÓ
Maria Mercè Claveguera i Espona
Jordi Pere i Mas
Tradução: Màrius Vendrell Royo – Julho/96